Historiadora de Praia Grande pesquisa a profissão há 18 anos, e neste período colecionou mais de 150 entrevistas com moradores mais antigos, fotos, mapas e outros itens relacionados ao tema, que interessa a toda a região
Praia Grande
Uma profissão em alta e fundamental, de homens corajosos e que literalmente fizeram história. Era assim o tropeirismo no seu auge, entre os séculos 18 e 19. Os tropeiros faziam em lombo de mula o trabalho que hoje cabe aos caminhoneiros, explica a historiadora Renata Carreira Corvino, de Praia Grande.
Renata pesquisa a profissão há 18 anos, e neste período colecionou mais de 150 entrevistas com moradores mais antigos, fotos, mapas e outros itens relacionados ao tema, que interessa a toda a região. “Com as tropas, homens e mulheres cruzavam o interior de Santa Catarina, estabelecendo novas rotas, facilitando a comunicação entre os locais, organizando o comércio”, diz. Eles também criavam povoados pelo caminho, que depois se tornaram cidades.
Segundo a historiadora, tropeiros existiram até os anos 70 do século 20. Em 1974 alguns ainda cruzavam da serra ao litoral, resistindo mesmo entre carros e caminhões, em estradas abertas, e não mais em picadas. “Enfrentando climas rigorosos, com vento minuano, geada, neve, altas temperaturas, caminhos quase intransponíveis, tropeiros e tropeiras estabeleceram uma integração no Sul do Brasil”. Sim, tropeiras. Renata encontrou provas de que mulheres também exerceram essa atividade, embora não fosse comum.
Alguns tropeiros passavam até três meses na estrada. Um dos depoimentos colhidos por Renata é de Clarisvaldo Martins, que conta sobre o intenso comércio entre serra e litoral. “As pessoas iam daqui comprar porco lá na serra: Cambará, Jaquirana, São Chico. Eu cheguei a ver tropa de corpo descer pelo Molha Coco. Outra coisa que descia muito era gado. Eram levados e vendidos em Sombrio, Araranguá, levavam 200, 300 bois”.
De acordo com a pesquisadora, os tropeiros pegavam em Praia Grande banana, açúcar mascavo, arroz seco e até bergamota. Da serra traziam charque, pinhão, farinha de trigo, querosene para as lamparinas (não existia luz elétrica). Os mais ricos encomendavam também cadeiras, fabricadas na serra e transportadas para às residências praiagrandenses.
No final do ano, os tropeiros foram homenageados pela administração municipal com um monumento erguido no centro de Praia Grande. O trabalho teve por base a pesquisa de Renata, que é assessora do Departamento de Cultura do município.
Rua das Tropas
A rua Abel Esteves de Aguiar nos convida a um passeio no tempo. Sendo a mais antiga da cidade de Praia Grande, seu traçado foi feito pelos cascos das mulas, o tilintar dos cincerros e a tropa de gado passando.
No início do século XX, o centro comercial era Molha Coco (atual Vila Rosa), porém devido ao crescimento do comércio para atender as necessidades dos tropeiros, o vilarejo de Praia Grande sofreu algumas mudanças em sua estruturação interna. Alguns comerciantes de Molha Coco e várias famílias vieram tentar ganhar a vida aqui e acabaram se instalando na antiga rua das Tropas. A rua chegou a ter um grande número de casas de comércio, entre elas, casas de secos e molhados, atafona, descascador de arroz, engenho de açúcar, torrefação de café, botica (farmácia), selaria, curtume, ferraria, fábrica de bolacha, dentista. Foi também iniciada ali os ensinamentos e a construção da igreja Anglicana.
Abel Esteves de Aguiar, antigo morador e incentivador do comércio local chegou a colocar o nome da pequena vila, de Vila Rosenda, prestando também homenagem a sua primeira esposa já falecida. O nome “Vila Rosenda” chegou a ser colocado em alto-relevo na casa em que residia. Tinha também instalada em 1929, a primeira usina do distrito de Araranguá a gerar energia elétrica, aproveitando as águas do rio Mampituba. Por volta de 1940, por motivos econômicos, político e religiosos, o centro comercial foi aos poucos se deslocando para próximo da capela católica que ficava na atual praça central de Praia Grande. (…)
Texto: @renatacorvino -Historiador