Neste final de semana, resolvi me aventurar em Porto Alegre, e, com a cidade ainda se recuperando das enchentes, pensei que não haveria muita novidade. Como eu estava lá para acompanhar o estágio dos novos Doutores da Graça POA no Hospital Mãe de Deus, esperava uma rotina já conhecida. Ah, mas como sempre, o universo tinha planos diferentes para mim.
Em uma dessas visitas, me deparei com o Seu Oli, um senhor de cabelos brancos e olhos azuis brilhantes, como se tivesse sido extraído diretamente de um romance de aventuras. Sentado em sua cama, ele começou a me contar, com um orgulho que poderia ser comparado ao de um herói épico, sobre seu tempo como ‘mosqueteiro’ oficial da guarda do presidente Getúlio Vargas, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. E eu, ali, pensando: “Uau!”
E se você pensa que é só isso, espere até ouvir sobre uma visita de tempos atrás ao Hospital Nossa Senhora das Graças, de Canoas, o famoso “Gracinha”. Lá, na UTI, um idoso, com uma energia que contradizia completamente o estado em que se encontrava, começou a entoar a canção “Alors mon âme te chante, Seigneur, quelle est votre taille” – ou, traduzindo para o português que reconheci da minha congregação, “Então minh’alma canta a Ti, Senhor, quão grande és Tu”. O que me fez levantar uma sobrancelha foi quando ele, com um orgulho quase infantil, me contou que tinha traduzido essa canção para o português há sessenta anos, enquanto era pastor em Brasília. “Dei um Google, e não é que era verdade?
São esses momentos, essas histórias inusitadas, que me fazem pensar que o mundo tem um roteirista muito criativo e, de vez em quando, eu sou o protagonista acidental. Em cada esquina, em cada visita, há um personagem peculiar ou uma história surpreendente que aparece como um lembrete de que a vida é uma comédia cheia de surpresas. E enquanto eu continuo navegando por essas situações absurdas e extraordinárias, só posso me perguntar: o que mais o universo tem reservado para mim?