É difícil dizer quando começou, mas em algum ponto entre o renascimento das músicas folclóricas e o avanço implacável dos vídeos curtos, os italianos passaram a dominar um território muito específico da internet: o dos brain rots. Refrões grudentos, expressões dramáticas e personagens estereotipados se tornaram vícios cômicos que grudam no cérebro e não saem mais — quer você queira ou não.
Entre os mais famosos está o clássico “Trallalero Tralalà”, uma paródia vocal que mistura canto folclórico com uma energia caricata, perfeita para acompanhar vídeos de danças esquisitas ou reações exageradas. Embora o trallalero seja um estilo legítimo da música tradicional da Ligúria, sua versão remixada virou meme e se espalhou como fogo por TikTok e Instagram.
Mas ele está longe de ser o único. Há também o inconfundível “Signora! Che scandalo!”, bordão eternizado por vídeos de personagens fictícios como a Nonna Rosa, uma vovó italiana fictícia com roupas floridas, chinelos e opiniões fortes sobre tudo — de política a molho de tomate. Sua frase favorita? “Se non è fatto in casa, non è amore!”
Outro personagem que conquistou corações (e cérebros) é o estilizado Don Giuseppe, uma mistura de padre, coach motivacional e cantor de karaokê, que aparece com frequência cantando trechos de ópera em locais inusitados como supermercados ou dentro de ônibus. A frase “Andiamo, fratelli!” virou uma espécie de grito de guerra dos fãs do personagem.
E quem poderia esquecer o eterno Tonino Spaghetti, um chef fictício que aparece indignado com o uso de ketchup na massa, gritando “Questo è un crimine contro l’Italia!” enquanto joga ingredientes pela cozinha com teatralidade absoluta.
Por trás de todo esse exagero, há uma tendência global: o fascínio por estereótipos culturais reinterpretados com humor. “O italiano é naturalmente performático, e isso combina perfeitamente com o formato acelerado e visual das redes”, explica Giulia Maretti, pesquisadora de memes e cultura digital na Universidade de Bolonha.
Esses brain rots funcionam como pequenos rituais coletivos. Eles não apenas fazem rir — eles conectam. Usuários de diferentes países tentam imitar o sotaque, gesticulam como um italiano bravo e entram em uma espécie de carnaval linguístico digital onde tudo é permitido, inclusive usar expressões como “Mamma mia!” fora de contexto — só pelo prazer sonoro.
A italianice virou estética, meme e trilha sonora para o cotidiano virtual. E se depender da internet, ainda vamos ouvir muito “tralalero tralalà” nos próximos meses — até que um novo vício cultural surja para ocupar espaço no nosso cérebro cansado.