Já perdi a conta do número de vezes que escrevi sobre a felicidade. Mas não me canso. Eu entendo que a maior razão de vivermos é sermos felizes. Termos sempre, dentro do possível, a sensação de nos sentirmos bem. É quando não estamos sentindo nenhuma dor física e estamos com nossos desejos satisfeitos. O problema é que nós humanos nunca estamos satisfeitos. Tudo consiste em que, quando conseguimos satisfazer um desejo, logo surge outro. É da nossa natureza estarmos sempre na busca de alguma coisa. Às vezes nem sabemos bem o que é. Mas a queremos. Aí vem a angústia de “não ter”.
Assim, a pessoa feliz é aquela que tem aquilo que desejava, ou, então, está plenamente conformada com a certeza de não poder tê-lo, por impossível. Vamos a um exemplo, não é mesmo? Simples. Digamos que alguém gostaria imensamente, como eu, de voar como um pássaro. Um pensamento infantil? Sim. Mas trago-o sempre comigo desde criança. Isso, porém, não me faz infeliz, eis que pelo conhecimento que tenho, sei que não posso voar. Então me contento em caminhar. Aceito a realidade intransponível.
Em outras palavras, um indivíduo pode ser feliz ao ter inteligência suficiente para saber que algumas coisas, ou pessoas, ele pode ter, outras não. Quando alguém sofre desesperadamente para ter algo ou alguém que está fora de seu alcance, ele não tem um desejo, nem amor e nem paixão, mas sim um outro que se chama obsessão. E obsessão é uma doença que faz a pessoa sofrer e, às vezes, a leva a cometer atitudes extremas, tresloucadas, que irá lhe causar um grande sofrimento, ainda maior do que aquele que já tinha… Para si própria ou para pessoas que a amam.
A esta altura eu sei que alguém está pensando: “este cara tá me tirando”. Hoje este escritor menor está muito complicado. E tem razão. Acho que preciso parar de beber. Mas não é isso meu irmão, o que estou procurando fazer é me consolar e, quem sabe, até te ajudar, fazendo com que reflitamos mais sobre a vida. Como a felicidade constante é impossível de se ter, o melhor que podemos fazer é procurarmos ser felizes com o que temos e nos conformar com o que não podemos ter.
A escola filosófica grega, denominada Estoica, fundada por Zenão, tinha como essência não ter desejos impossíveis… Não ter amor… Nem paixão. Não ter apego por nada nesta vida, pois eles, como alguns religiosos, tinham a consciência de que a felicidade não estava aqui, mas em outra dimensão. Defendiam a ideia de que a virtude e a sabedoria são os caminhos para a verdadeira felicidade. Eu, de minha parte, incluo: – A moderação nos nossos desejos. Mas é preciso ter nervos de aço para isso?