Peanut (amendoim em inglês), foi o nome dado ao hamster que minha filha Melissa comprou quando menina. Você sabe, os hamsters são aqueles roedores bonitinhos que ficam correndo em uma roda. Porque eles têm um nível alto de energia, percorrendo quilômetros todas as noites, os hamsters quando posto em cativeiro precisam de uma roda giratória que lhes ofereça algo semelhante ao seu “estilo de vida”.
Segundo artigo “Hamster Wheels” publicado pelo website PetMD e escrito pela veterinária americana, Dr. Melissa Witherell, eles correm sobre rodas porque “em seu ambiente natural, os hamsters vivem em elaborados sistemas de escavações subterrâneas, correndo constantemente de uma ponta a outra. As rodas de exercício ajudam a fornecer aos hamsters domesticados atividade aeróbica para imitar esse comportamento. Alguns hamsters correm até oito quilômetros por noite em suas rodinhas”. Em seu artigo, a veterinária diz que “fornecer o enriquecimento ambiental adequado ao seu hamster pode ajudar a prevenir: Ansiedade, Obesidade e Inquietação”.

Você talvez esteja se perguntando o porquê me refiro a esses roedores. É simplesmente porque em algumas ocasiões eu me sinto como um deles. A roda gira, gira e gira e eu não saio do lugar. Quantas vezes você já se sentiu assim? Não importa o quanto positivo o seu dia ou a sua semana se inicia, você volta para casa se sentindo derrotado. Desanimado, você olha para uma montanha de coisas ou para a lista de tarefas e não tem vontade de fazer nada. Mal consegue assistir um filme e você dorme no meio mas quando vai dormir, perde o sono. Ansiedade? Inquietação? A sua mente não desliga e o seu pensamento percorre fronteiras em poucos segundos. Você gira na cama procurando a melhor posição para descansar e tenta voltar a dormir, mas sem se dar conta já está planejando o dia seguinte. Agoniado e talvez angustiado você busca ver que horas são e o tempo não parece passar. De repente, você cai no sono e a impressão é que o alarme toca logo em seguida. Sem energia, você levanta para mais um dia de batalha. Ou melhor, para mais um circuito na roda giratória.
The “hamster wheel” é uma metáfora muito usada aqui nos EUA para descrever alguém que está ocupado o tempo todo e muitas vezes nem sequer conseguindo finalizar uma tarefa. Sempre há algo que precisa ser feito em casa ou no trabalho. Quando não mistura os dois. Ou três, se estiver estudando. Ou mais, quando levando em consideração os amigos ou outras atividades sociais.
Janeiro de 2025 chegou com um inverno muito intenso e rigoroso trazendo uma série de viroses por aqui, o que acarretou muitos transtornos todos os dias no trabalho. Duas outras palavrinhas em inglês, surgiram em meio a tudo isso: WORN OUT e BURN OUT. Devido à falta de mão de obra, ficamos sobrecarregados, esgotados, desgastados ou como dizem os irmãos gaúchos, “esgualepados”, fisicamente e mentalmente.
Se você já se sentiu assim em determinado momento, deve entender perfeitamente o que estou falando. “Worn Out” é como uma roupa velha, desgastada, surrada e precisando de reparos. É quando você chega em casa em “frangalhos”, esgotado, sem energia, força ou entusiasmo, cansado, exausto e outros tantos adjetivos que eu poderia mencionar.
Já “Burn Out” traduzimos para “Queimado”, o que tecnicamente sugere a mesma coisa. A diferença é que usamos “Worn Out” mais para descrever o cansaço físico, enquanto “Burn Out” usamos quando nos referimos ao cansaço mental.
Quando nossa mente está sobrecarregada e parece que todos os circuitos estão queimados é o que chamamos de Burn Out. A sensação é que você quase vê uma fumacinha acima da sua cabeça. A lista de tarefas é enorme e como muitas vezes a gente pensa que é super herói, querendo fazer tudo ao mesmo tempo, acabamos por sair fora do nosso normal. Aí vem o desgaste não só mental, como físico e emocional. Por mais inteligente e eficiente que uma pessoa seja, é importante entender que nosso cérebro precisa de descanso também. O excesso de trabalho ou de tarefas podem conduzi-lo a uma série de outros transtornos e acarretar danos tanto para sua saúde física como mental.
Quando minha filha Melissa trouxe “Peanuts” para casa, ela estava super encantada com o seu animal de estimação. Ela comprou comida e um monte de outras coisinhas para o seu “bichinho” de tão grande era sua expectativa e motivação. Na manhã seguinte, quando entrei na cozinha, ouvi um barulhinho diferente. Para minha surpresa, lá estava “Peanuts” na sua roda giratória. Melissa não conseguia dormir naquela noite devido ao som do hamster exercitando-se e por isso o removeu do quarto. Quantas vezes também fomos removidos da vida de pessoas que amamos simplesmente porque não soubemos parar de girar a roda? Quantas vezes, sem nos darmos conta, nossas atitudes levaram alguém a se afastar?
Assim como hamster precisa de um ambiente adequado para ajudar a prevenir a ansiedade, obesidade e inquietação, assim também nós precisamos melhorar nosso estilo de vida, procurando alternativas que relaxem nossa mente e nosso corpo. De nada adianta corrermos como loucos contra o tempo, forçando a roda a girar mais rapidamente. De vez em quando é preciso pararmos e analisarmos o que é importante e o que é urgente. Saiba priorizar para viver melhor, sem fazer barulho na vida das pessoas que estão à sua volta.