Deixe-me lhe fazer uma pergunta indiscreta. Você teve medo do bicho-papão quando criança? Eu tive! Morria de medo de entrar num quarto escuro e já ia olhando logo embaixo da cama para ver se o malandro não estava lá, pronto para me atacar. Criança tem cada pensamento!
Mas e os adultos, têm medo do quê? Adultos têm medo de outras coisas. Tem gente que tem medo da morte. Não daquela figurinha dos filmes ou desenhos animados que segura uma foice na mão. Tem gente que tem medo de morrer ou de perder alguém.
Tem gente que tem medo da mudança. Melhor deixar como está. Continuam sem mudar de emprego por medo de tentar uma outra oportunidade. Continuam num relacionamento sozinho porque têm medo do que será começar de novo. Tem medo de mudar de cidade por temer uma nova adaptação.
Tem gente que tem medo da rejeição. Tem medo de tentar e não dar certo. Tem gente que tem medo de receber um não. Medo de tudo e medo do nada.

Tem quem não sai de casa por medo de ficar doente e há quem sai de casa por medo de ficar sozinho. O medo da solidão é triste. Já se deu conta que tem gente que tem medo de algo que não existe?
Conheci gente na escola que tinha medo de fazer uma pergunta por medo de parecer tolo. Tolo é quem faz a pergunta quando sabe a resposta. Perguntar ajuda a esclarecer dúvidas. Quem é sábio, não sabe tudo não! Está sempre querendo saber mais e para tanto, está sempre em busca de mais conhecimento.
Lembro-me de quando era menina cantarolar Belchior: “Foi por medo de avião, que eu segurei pela primeira vez a sua mão”. Hoje muita gente tem medo de voar, por medo de cair. Aviões caem em casas também.
Tem gente que tem medo do fracasso e do desconhecido. Tem gente com medo de altura e de ambientes fechados. Medo de conhecidos e de problemas não solucionados.
E você? Tem medo do quê?
Fear, é a palavra em inglês para medo e alguém me explicou uma vez que quando você encara o medo, você tem duas opções:
Fear
Everything
And
Run
(Tema tudo e corra)
OU
Face
Everything
And
Rise
(Encare tudo e levante-se)
Eu prefiro a segunda opção, e você?
Ao deixar o Brasil para vir aos EUA eu encarei o desconhecido. Nunca tinha viajado de avião. Nunca tinha saído da casa dos meus pais por mais de uma semana. Imagine viajar para um país onde a linguagem era outra e ainda enfrentar todos os transtornos de conexões em aeroportos. Agora acrescente isso no ano de 2002 quando havia passado somente um ano do atentado às Torres Gêmeas em NY.
Vamos lá, você pode imaginar! Muitos vistos foram negados naquela época, mas eu consegui o meu. Agora, ter um visto é uma coisa, entrar nos EUA é outra. Estou me referindo a outro bicho-papão. Sim, a tal da Mimi (imigração). Só de ouvir histórias contadas por conhecidos, me arrepiava. Mas eu fui lá, toda preparada para encarar o temido bicho-papão.
Sabe qual é o meu problema? Eu faço conexões, ou melhor, amizades ou simplesmente, amo bate-papo com pessoas que encontro em minhas viagens. Sou à moda antiga. E foi assim que passei pelo bicho-papão, a tal Mimi, sem me dar conta. Fiz amizade com Laila, uma mulher maravilhosa que se tornou mais que amiga. Laila foi um anjo em minha vida até sua partida em 2024. Mas isso é outra história. Num determinado ponto no aeroporto em Houston-Texas, Laila me disse: “eu vou por aqui e você por lá. Lá na frente, a gente se encontra”. E foi então que quando a reencontrei, me perguntou como foi na imigração. Pasmei! “Aquilo ali era o bicho-papão”?
Assim é o medo em nossa vida. A gente teme quando o que nos assusta está ali à nossa frente ou quando criamos uma imagem que não existe sobre tal coisa. O medo rouba o nosso contentamento e o brilho em nossa face. Ele é vilão! No meu caso, eu não sabia que estava frente a frente com o meu temido bicho-papão. Respondi todas as perguntas com muita naturalidade e espontaneidade como se eu estivesse respondendo ao porteiro do prédio de um amigo em uma visita casual. “Qual o seu propósito da viagem? Quanto tempo deseja ficar?”. Entendeu? Eu não me assustei porque não sabia. Teria sido diferente se eu soubesse? Não quero nem imaginar!
Agora, imagine um momento que alguém lhe disse: “precisamos conversar”. Talvez seu chefe, seus pais, seu cônjuge ou a diretora da sua escola. Se nada mais foi acrescentado à frase, a sua mente pode criar situações que não existem. Muitas vezes, o assunto não era tão importante ou tão assustador, mas o fato que você deu espaço ao seu pensamento para criar um enredo, isso passou do medo à ansiedade. Um turbilhão de emoções foi do cérebro ao coração em segundos.
“É fácil cair em um estado emocional negativo quando algo ruim acontece”, comenta Ian Tuhovski em seu livro Disciplina Mental, acrescentando a importância de manter sua resiliência mental e emocional. “Você precisa ser capaz de aceitar uma situação e encará-la objetivamente”.
Quando o medo for maior que a sua força de vontade, tire um momento para meditar e fazer uma autoanálise. Pessoas normais fogem e encontram desculpas para não encarar o problema. Uma pessoa com inteligência emocional vai à luta. Ela analisa a situação por um ângulo diferente até encontrar um método de vencer o obstáculo.
É como se o medo fosse uma ponte. Tudo o que você precisa para ser feliz está do outro lado. Então! O que está esperando para cruzá-la?